27.4.11

O maior desperdício de talento do mundo

Um homem alto, sem cabelo, morfologicamente perfeito para o emprego que desempenha. É carregador de pianos e é um dos melhores do mundo. Não sabe tocar o instrumento, apesar de já ter ouvido falar nas notas, de saber na ponta língua os nomes de cada uma com cada uma das variações. Não sabe tocar piano e não lhe faz falta. Tem outra missão absolutamente diferente da música, estando na profissão de viver à custa dela, complementando-a e tornando-a possível, porque sem ele, os dedos virtuosos seguramente, dos pianistas, não tinham como conseguir levar o piano do quarto para a sala, da sala para a rua, da rua para o palco. Hoje o pianista teve um dia não, esmurrou a madeira, partiu as cordas, soltou as teclas. O talento do pianista ficou feito numa sinfonia para surdos. O piano é o Real Madrid. O carregador é o Pepe. Foi um erro de uma fracção de segundo, que não merece uma crucificação eterna. As rápidas melhoras. Que volte ainda mais forte.

E o maestro, o que fez o maestro?
O maestro caiu no mesmo instante e quando lhe perguntaram porque também tinha caído, quis dizer em defesa do grupo que o pecado do carregador tinha outra origem que não a do carregador em si. Num minuto, a orquestra perdeu o corpo mais forte e perdeu o cérebro e deixou de ser uma orquestra. A música do descontrolo emocial é uma composição horrível, seja ela ou não assinada pelo melhor de todos os maestros. Assisti hoje ao maior desperdício de talento mundo. Força José.

2 comentários:

francisco carvalho disse...

Muito bom, como sempre.
Os artistas, os solistas ficaram quase todos no banco...

António Reis disse...

e a razão toda do teu lado... Abraço

Bob Dylan

Aquele bendito instrumento musical, a máquina de escrever, e os seus botões de onanizar tímpanos, as teclas, corpos fora do corpo,...